Não é a Polícia que manda
Fabrício Ramos *
Escrevo em resposta a ‘carta ao leitor’ sobre o filme Tropa de Elite, publicada por Marcel Leal no dia 27 de outubro, no site do Jornal A Região. Eu também assisti ao filme (ótimo, por sinal), e um mínimo de sensatez me obriga a rascunhar algumas palavras.
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O filme em si não é reacionário. Mas o ponto de vista do Capitão Nascimento é - além de reacionário - taxativo, limitado e violento. A proposta do filme, no entanto, é outra. Defende claramente a idéia de que o comportamento do homem resulta de circunstâncias (e não só do caráter), inclusive o do próprio capitão da tropa, que, dominado pelo stress da ‘guerra’, sucumbe à violência abusiva nas favelas e ao autoritarismo berrado dentro de casa.
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Marcel Leal, contudo, defende que “a maioria (dos bandidos), quase todos, não tem jeito. Nasceu para isso”, concluindo que são criminosos irrecuperáveis. É preocupante que o Estado decida que matar pessoas é uma boa forma de punir o crime. Mas é trágico que alguém aceite e, pior, defenda que a polícia deva fazê-lo, independente do Estado, que é regido por leis.
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Dizer que uma pessoa nasceu pra ser bandido é recorrer a técnicas e idéias retrógradas e ultrapassadas de perfis sociológicos e psicológicos do criminoso, o que justificaria medidas extremas, caminhando, quem sabe, para a vigilância do ‘potencial’ criminoso antes mesmo dele cometer o crime – porque, pressupondo que nasceu para o crime, pressupõe-se que irá cometê-lo.
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E tal pensamento surge numa dita ‘democracia’ avançada como a nossa - como seria sob as asas de uma ditadura a aplicação dessas idéias em nome da segurança pública? Pé na porta e tapa na cara!
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Marcel Leal pergunta ainda: “Por que o cara que matou, roubou, estuprou, vendeu drogas para nossos filhos deve ter vida boa?” – Um cara que mata, rouba e estupra, óbvio, tem que ser punido. Mas não para saciar a ânsia de ‘vingança social’, e sim para mostrar que existe lei em um país, para vivermos minimamente em paz.
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A criminalidade está relacionada (também, mas não somente) às adversas condições sociais do país, mas também a impunidade, esta que, aliás, estimula a corrupção que faz crescer as desigualdades sociais num desumano círculo vicioso. Mas, enfim, porque o BOPE só mata na favela, sob os aplausos de Marcel Leal e Luciano Huck? E até parece que os tais caras, que roubam, matam e estupram têm vida boa onde quer que seja...
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Mas fica outra pergunta no ar: se esses caras vendem drogas para nossos filhos, por que nossos filhos compram drogas desses caras? É trágico também não saber o que se passa de verdade em seu país, em sua cidade, ou mesmo em sua família. Sem conhecer a verdade, sem observar com cuidado e clareza, livre de preconceitos e de soluções simplistas, é impossível resolver o problema. Estaríamos condenados a repetir os mesmos erros históricos de sempre.
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Por fim, é claro que todos nós queremos acabar com o crime, e essa vontade é inerente ao ofício da polícia, inclusive buscando impedir a possibilidade mesma do crime. Mas por isso mesmo não é o papel da polícia fazer as leis – teríamos uma vida muito pouco interessante se assim fosse...
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Aplaudir e ter como solução a ação violenta e assassina da polícia contra os ‘bandidos irrecuperáveis’ é apostar na repressão como forma de organização social, e já é visível que as até aqui ineficazes políticas públicas de segurança só fazem crescer a necessidade de investimento em estrutura policial e construção de presídios.
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Assim chegamos a uma estrutura de segurança pública hipertrofiada, com elite e elites da elite das tropas, cujos policiais já não consideram o risco do cidadão, mas apenas o do bandido; e os dirigentes responsáveis só consideram os seus próprios riscos políticos.
Escrevo em resposta a ‘carta ao leitor’ sobre o filme Tropa de Elite, publicada por Marcel Leal no dia 27 de outubro, no site do Jornal A Região. Eu também assisti ao filme (ótimo, por sinal), e um mínimo de sensatez me obriga a rascunhar algumas palavras.
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O filme em si não é reacionário. Mas o ponto de vista do Capitão Nascimento é - além de reacionário - taxativo, limitado e violento. A proposta do filme, no entanto, é outra. Defende claramente a idéia de que o comportamento do homem resulta de circunstâncias (e não só do caráter), inclusive o do próprio capitão da tropa, que, dominado pelo stress da ‘guerra’, sucumbe à violência abusiva nas favelas e ao autoritarismo berrado dentro de casa.
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Marcel Leal, contudo, defende que “a maioria (dos bandidos), quase todos, não tem jeito. Nasceu para isso”, concluindo que são criminosos irrecuperáveis. É preocupante que o Estado decida que matar pessoas é uma boa forma de punir o crime. Mas é trágico que alguém aceite e, pior, defenda que a polícia deva fazê-lo, independente do Estado, que é regido por leis.
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E tal pensamento surge numa dita ‘democracia’ avançada como a nossa - como seria sob as asas de uma ditadura a aplicação dessas idéias em nome da segurança pública? Pé na porta e tapa na cara!
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Aplaudir e ter como solução a ação violenta e assassina da polícia contra os ‘bandidos irrecuperáveis’ é apostar na repressão como forma de organização social, e já é visível que as até aqui ineficazes políticas públicas de segurança só fazem crescer a necessidade de investimento em estrutura policial e construção de presídios.
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Assim chegamos a uma estrutura de segurança pública hipertrofiada, com elite e elites da elite das tropas, cujos policiais já não consideram o risco do cidadão, mas apenas o do bandido; e os dirigentes responsáveis só consideram os seus próprios riscos políticos.
5 comentários:
Simplesmente formidável o artigo! O Fabrício está de parabéns, pois aborda a questao desde uma perspectiva ampla, nao simplista.
Muito bom o comentário Fabrício,leio sempre os "artigos" do Marcel,mas,as vezes ele se deixa levar pela "intolerância" e pela ansiedade em "aparecer". Acredito que não seja em verdade seu pensamento, se não por quê lutar tanto e incansavelmente para descobrir e punir os aasassinos de seu Pai? Porquê lutar tanto contra a VIOLÊNCIA?
Muito bom mesmo o pensamento e comentáriode Fabrício. Más vamos lembrar que a populução favelada de classe D subiu muito estatiísticamente e o Brasil não investiu praticamente quase nada nesses últimos 22 e dois anos de democrácia, em segurança publíca, em construçãode escolas, e hospital, no socil, deixando que os pais de famílias honestos fiquem refém dos bandidos. É o bandido que paga sua conta de luz, sua alimentação, e quando álgum membro de sua família fica doente o bandido faz as vezes do que o Estado deixou de fazer, e com isso aquele pai de família por mais que não queira torna-se um poderoso aliado do tráfico. Ná Itaília existe a famosa operação mãos limpas, ondes os políciais Italianos fazem o mesmo que tropa de elite faz no brasil. Só que sob o comando da justiça.Já tivemos à décadas passadas no tempo da ditadura, uma tropa de elite , com as mesmas finalidades o combate ao crime organizado, era o famoso exquadrão-da-morte, comandados por secretários de segurança, por delegados e agentes especial, no início deu certo, mas depois os defensores da lei, passaram a extorquir mais que a bandidagem, e o crime voltou a ser banal nos morros e nas favelas, do Rio e nas Capitais.Existem em todas as organizaão militar ou para militar, polícia e polícia, temos que saber quem realmente é a polícia, aquela que faz o trabalho em pról da coletividade, e deixar a polícia bandida subir ao morro e lá de cima a polícia mandar balas para todos os lados e acabar com o bandido e a polícia bandida.
é importante lembrar que pela frustração o capitão nascimento se torna um bandido como os que caça, tortura e mata, mas lembrems-se de um momento em que diz: eu nao sei como termina a historia do maluco, mas sei como começa: o cara deve ter tido uma infancia fudida, entrar para o crime foi provavelmente a unica saida dele, o que eu nao tolero são os que tendo todas as oportunidades do mundo entram para o crime (os "plaboys").
o cara sabe que esta errado em suas atitudes, mesmo assim continua, tem uma vida amarga e se arrepende de varias merdas que faz pouco tempo depois de fazer. tem mais o filme mostra claramente o que o traficante é: vitima social.
lembro de uma noticia que vi em um noticiario qualquer: no alto da favela, na boca tinha uma plaquinha: não temos vagas na boca, por favor não insista. imagine um lugar onde ate o crime rejeita as pessoas, onde a carencia de emprego é tão grande que até a boca rejeita, que o crime é o unico trabalho que se pode ter, e mesmo assim este trabalho anda em falta.
podem dizer que criminoso é tudo "descarado". mas ha quem discorde... e discorde embasado na realidade e não em emoçoes...
Zelão Aplaude:
Excelente Sêo Fabrício. Ilógico ou louco, é pensar que o crime, oficializado ou não, tem o poder de combater a violência.
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