11 novembro 2007

Papo de vendedoras

Karol Vital


É dizermos sim para um “Posso te ajudar?”, que os vendedores entram em nossas vidas e auxiliam a determinar como vamos gastar o nosso suado dinheirinho. Contamos sempre com a experiência daquela pessoa em lidar com diversos materiais e marcas, mas como saber se realmente vão nos ajudar a comprar aquilo que necessitamos ou cairá bem à nossa silhueta? Só sabendo o que se passa na cabeça daquelas criaturas alimentadas pelo nosso consumismo. Uma vez eu ouvi.

Estava voltando para casa, num ônibus lotado, aqueles de final do dia. Duas mulheres uniformizadas sentaram atrás de mim e começaram a conversar:

- Ai, minhas pernas! Não agüentava mais ficar em pé na porta daquela loja! – lamentou uma.

- O pior é que sem vender nada. O povo não tem dinheiro! – disse a outra mais pessimista.

- É. E o que me dá mais raiva é aquela gente que entra, faz a gente descer a mercadoria e depois diz que vai passar depois. Parece que não sabem o que quer – desabafou a mais cansada.

- Não, triste mesmo é aquela meninada de colégio, que em época de prova, sai mais cedo e tem como diversão ficar provando roupas. Eu não atendo! – falou a outra, com um tom agressivo.
Ao ouvir esta frase eu fiz uma viagem no tempo e lembrei que as minhas colegas adoravam fazer isto. Eu, no máximo, as acompanhava nas lojas de perfume para sair cheirosa. Não imaginava o quanto isto irritava as vendedoras. Então, fui informada que as colegiais estão se superando:

- Ah, menina! Esses dias uma turma chegou lá na loja com uma máquina digital. As meninas entravam no trocador, batiam as fotos e se picavam.

- Deve ser para colocar no orkut! – deduziu a outra.

Eu arregalei os olhos ao escutar esta nova modalidade de azucrinar os pobres comerciários. Além de não levarem a mercadoria, as individuas ainda tiram fotos para se mostrarem aos seus “miguxos”. É muita cara-de-pau!

Fiquei mais curiosa com o desfecho da conversa, ajeitei-me junto à janela do coletivo e apurei os meus ouvidos:

- Por isso é que eu gosto de atender homem. Eles chegam, não perguntam o preço nem provam direito e já levam. Tem uns que medem a cintura da calça pela grossura do pescoço! – falou a vendedora, com experiência.

- Mulher é que é fogo. Fica naquela indecisão, um tira e bota, parecendo que vai achar o sapatinho de cristal! – ironizou a outra.

- Comigo não tem essa. É só colocar qualquer coisa e eu digo que está lindo. Eu me livro logo pra ver se pego outro cliente. Com aquela comissão que eles me pagam, o negócio é vender o quanto der – disse a experiente, demonstrando como aplica sua esperteza.

O papo das vendedoras rendeu, desabafaram suas frustrações, falaram de suas famílias, de não ter tempo para ver os filhos crescerem, do cansaço, das cobranças e dos clientes mal-educados. Quando desci no meu ponto e caminhei para casa, fui digerindo aquela conversa. Conclui que o “Posso te ajudar” pode ser um “Ajude-me, por favor”.

Karol Vital é comunicóloga.

4 comentários:

Anônimo disse...

As vendedoras são pagas para atenderem os clientes, se elas não conseguem fazê-los comprar é por pura incompetência, e se eles não compram no dia, e se forem bem atendidos com certeza retornarão assim que puderem gastar um pouco. Quem tem emprego não tem que reclamar de nada! Já pensou como é o dia-a-dia de um carteiro entregando as correspondecias debaixo de um sol de 40 graus? E dos garis? Pior, dos lixeiros? Porém são todos pagos para fazerem as suas tarefas! Cada um deve se esforçar para melhorar de vida, se aprimorar profissionalmente, ficar reclamando não vai adiantar de nada!

Anônimo disse...

Zelão Para Carol:


Menina Carol, como sempre, é um prazer ler os teus artigos que leio como se estivesse escutando uma narrativa de um fato.
no entanto, permita-me discordar da tua conclusão sobre o fato em foco. Entendi, que após um dia cansativo de trabalho, nem sempre bem remunerado, as duas protagonistas, faziam um desabafo, o mais comum dos jestos humano. elas, duas mulheres, como foi dito, mães,voltavam para casa cansadas, sabendo de antemão, que uma nova e penosa jornada de trabalho as aguardava.
Menina Carol, rogo-lhe; como comunicóloga e como mulher, que seja complacente e, até mesmo condecedente; com elas e com todas as mulheres trabalhadoras e donas de casa. Se entedestes ser um "grito de apelo" ao invés de uma oferta gentil de ajuda, você, no frescor da tua juventude deverá perguntar a elas: - "Como podemos Ajudá-las"?

Do seu fã!

Zelão

Bel disse...

Amiga, não quero entrar no mérito da questão de que elas têm razão ou não em reclamar... mas você, a cada texto se supera. Faz colocações que fazem pensar, e isso é bom. Mas hoje eu não estou com vontade de pensar... só queria saber o resultado dos meus pareceristas... hehehehehe

Beijão!!!

Anônimo disse...

Muito bom!!!
rsrsrs...
Volta e meia também sou um "observador urbano", faço isso com muita frequência, chegando em casa com diversas situações do dia a dia.
Parabéns! Quem sabe um dia, não esteja também relatando minhas "viagens"!!!
ilheus_bahia@hotmail.com