21 outubro 2007

A roupa maior que o dono

“Uma crônica do ontem, válida para o hoje”


Gerson Menezes

publixcriativo@hotmail.com


Essa expressão é usada para definir alguém que queria aparentar ser bem maior do que é verdadeiramente. Valho-me dela, para tentar definir o PT. Nascido dos movimentos sindicais, o partido buscou na intelectualidade de esquerda e nos movimentos eclesiásticos os seus conceitos sociológicos.

A meu ver, o termo “companheiro” sinalizava uma igualdade entre todos os seus membros. O partido cresceu e chegou ao poder em todas as esferas políticas da nação e dentre os iguais das várias correntes que abriga no seu bojo, surgiram destaques e ícones, que por sua vez se tornaram “maiores” que a própria sigla partidária.

Como conviver com o fato de que os iguais já não eram tão iguais?

Vê-se aqui, ali e acolá, a intransigência dos companheiros querendo negar aos “companheiros que se destacam” o direito de exercer a liderança alcançada fora do conceito dos “iguais” que se esconde sob o manto da democracia partidária, o que faz do PT um partido diferente dos demais.

Aqui, Geraldo Simões sofre as pressões dos companheiros que acreditam que a sua ascensão política se deve única e exclusivamente às forças políticas do PT, esquecendo que, dentre nós, o nome de Geraldo Simões é hoje bem maior que o da própria legenda. E tanto é verdadeiro que se os “companheiros” estivessem certos o partido conseguiria eleger uma bancada maior de vereadores.

E foi assim, seguindo essa linha de pensamento autofágico, que muitos dos “ex-companheiros” de Geraldo se bandearam para o lado do ex-deputado federal Josias Gomes, na tentativa de criarem uma nova liderança para com Geraldo dividir o poder, que entendem ser do partido e não da liderança conquistada por Geraldo.

A mesma pressão sofre o governador Jaques Wagner na formação do seu governo, com os companheiros querendo para o partido “todos os cargos” (possíveis e imagináveis) do governo, esquecendo-se que Wagner foi eleito por uma coalizão partidária, que exige e merece o seu quinhão de poder.

Sofre igualmente, e em escala bem maior, o Presidente Lula, na formação do seu novo ministério quando os companheiros querem impor nomes que julgam ser capazes de suceder ao Lula, em 2010. No caso, a ex-prefeita de São Paulo, Marta ex-Suplicy e, de manterem a hegemonia do poder. Foram atitudes iguais que fizeram com que Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo e Vitor Buaiz, no governo do Espírito Santo, abandonassem o partido por não suportarem mais as pressões dos companheiros.

Na verdade, ao contrário dos outros partidos tidos pelo PT como menos democráticos, as lideranças se destacam e, naturalmente, são seguidas. Se, por um lado, a “democracia dos iguais” foi benéfica ao PT, quando todos realmente eram iguais, hoje, quando pessoas se destacam pela liderança que alcançaram, o melhor seria que o conceito democrático fosse ampliando no sentido de “aceitação democrática das diferenças”.

Gerson Menezes é publicitário.

(Esse comentário foi escrito logo após as eleições de 2006)


Um comentário:

Anônimo disse...

Paty

Olha, eu não gosto do Geraldo mas a sua leitura sobre o compotamento dos companheiros, foi perfeita.