28 outubro 2007

SAÚDE E EDUCAÇÃO PÚBLICAS: CAOS SEMELHANTES E ININTERRUPTOS

Marcos Bispo Santos *
educadorpolitico@hotmail.com


No tempo de Cristo havia os Vales dos Leprosos, um lugar onde eram depositados os doentes com lepra (hoje hanseníase), tão bem(mal) apresentado no filme “Ben-Hur”, ganhador de 7 oscars e até hoje uma das melhores produções cinematográficas sobre aquele período, talvez pela maneira discreta com que trata a questão religiosa e mística do cristianismo, sem doutrinamento fundamentalista. Naqueles lugares, não se podia entrar ninguém que não tivesse a lepra. As pessoas “saudáveis” que precisassem ir ver algum familiar ou amigo possuidor da doença, tinham que ficar a muitos metros de distância, deixando alimentos, roupas ou quaisquer outros provimentos na entrada do Vale, aonde os próprios leprosos tinham que, a despeito da doença, ir buscar tais coisas.

No filme, Ben Hur supera este preconceito, descumpre a regra estabelecida e vai ao encontro de sua mãe e sua irmã, leprosas e habitantes do Vale. Brasil, 2007 d.C., já no 2º governo Lula e passados 5 anos de dois desgovernos do PSDB; já com 10 meses de governo Jaques Wagner na Bahia e após 20 anos de ditadura do grupo de ACM e numa cidade desgovernada pela 4ª vez por um prefeito do DEMO, temos aqui, como em inúmeros hospitais públicos do Brasil, notadamente nos piores de cada cidade deste país, verdadeiros Vales de Leprosos. Nestes hospitais, as côrtes de Brasília, de Salvador e das prefeituras, só vão quando é para algum ato político, quase sempre em campanha. E a sociedade também prefere ficar distante e não lembrar que existem, como os contemporâneos do Cristo faziam com seus Vales de Leprosos.

Esta semana, meu pai foi internado no maior hospital público da região cacaueira, também este um Vale de Leprosos. Alfredo Antonio dos Santos é o seu nome, um senhor de 71 anos de idade, portador de diversos problemas de saúde, próprios de quem teve de trabalhar com o pai na roça, desde os 12 anos de idade. Sr. Alfredo, ainda antes dos 18 anos, ao ter o pai doente, passou a trabalhar muito mais e sozinho, para sustentar mais de 10 irmãos nas regiões de Amargosa e Jequié, aqui na Bahia. Ele está internado no Hospital Regional de Base Luís Eduardo Magalhães, que fica na cidade de Itabuna. Sr. Alfredo tem diabetes, uma hérnia imensa na virilha, problemas de próstata e não tem podido operar e cuidar de nenhum dos seus males porque está também com um crescimento acelerado do coração.

Eu acredito e defendo isto há muito tempo, que dirigente público de Educação e Saúde teria que vincular sua posse à frente de órgãos desta natureza, à condição de que os seus familiares, ao menos os de dependência direta, a partir de seis meses da posse, devessem ser atendidos apenas no Sistema Público. É inaceitável este estado de coisas que vemos e vivemos na Saúde e Educação Públicas. Os dirigentes, todos eles, fazem discursos vazios de melhoria do Sistema, chegando às vezes à afirmação puramente falaciosa de que estão perto da perfeição, mas afastam seus familiares destes verdadeiros Vales de Leprosos de hoje em dia. E esta metáfora cabe, por mais dura que seja, mais intensamente, para os hospitais públicos do Brasil. Todavia, muitas escolas públicas também os são. Com raríssimas exceções, que no universo dos 5.500 municípios brasileiros, não acredito que cheguem a 100, não há dirigentes públicos, do município, do estado e muito menos da União, que admitam que um dos seus freqüentem Escolas Públicas e dependam do (péssimo) atendimento da imensa maioria dos hospitais públicos.

Lamentavelmente, meu pai está internado em um destes Vales de Leprosos. Já havia tentado sem sucesso incluí-lo como dependente do meu plano de saúde (que tenho por ser professor concursado do Estado da Bahia) e voltei a tentar esta semana, no dia seguinte ao seu internamento, e de novo não consegui. Alegam que ele não é meu dependente direto. No Hospital Regional de Base Luís Eduardo Magalhães, aqui de Itabuna, como no Hospital Geral de Salvador ou no Hospital Miguel Couto, do Rio de janeiro, voltamos ao tempo de Cristo. Pessoas ficam por seis horas ou mais, aguardando atendimento em cadeiras idênticas à de bares de periferia, sem qualquer conforto, num ambiente de muito mau-cheiro e dependendo de funcionários que, em sua maioria, demonstram estar ali pela simples necessidade de ganhar dinheiro, qualquer dinheiro, até porque, em lugares assim, salários altos, só para quem menos trabalha. Vi no primeiro dia em que lá estive, esperando durante 8 horas para o atendimento e internamento do meu pai, várias “patricinhas”, egressas de Faculdades Particulares, disfarçadas de enfermeiras, que nem mesmo cumprimentam as pessoas que estão nos corredores por onde passam. Uma delas, até usava um MP3 com fones de ouvido e cantava desconexamente à situação que urgia em seu redor.

Nos dias que se seguiram ao internamento do meu pai, o que tenho constatado é que o Socialismo idealizado pelo médico Ernesto Che Guevara há 40 anos atrás está cada vez mais distante de terras brasileiras e que a mesma situação de abandono e de transformação de seres humanos em párias da sociedade, que Che constatou no Peru (e que pode ser vista no filme “Diários de Motocicleta” do diretor brasileiro Walter Sales) da década de 1950, não só não se reverteu, como se espalhou por toda a América Latina, e no Brasil continua gerando multidões. No Hospital Regional de Base Luís Eduardo Magalhães aqui de Itabuna, o que tenho visto são camas enferrujadas, falta de lençóis, ausência de qualquer acomodação apropriada para os acompanhantes (não há onde sentar, nem dormir, quando é necessário ficar junto ao paciente), pias e banheiros com encanamentos com defeito (TV e som ambiente então, nem pensar) e inúmeras auxiliares de enfermagem (que fazem o que podem e com muita dedicação) onde deveriam estar Enfermeiras. Isso para não falar dos médicos, que salvo nos dias (um ou dois por semana) em que dão plantão, passam em cada enfermaria por minutos, ficando na Unidade Hospitalar por, no máximo, uma hora.

No primeiro dia, por ter chegado ao hospital após as 8h da manhã, não encontrei ninguém que pudesse me informar com precisão o prontuário do meu pai. Fiquei lá por 1 hora e meia e a Enfermeira-Chefe daquela enfermaria, não apareceu. As auxiliares de enfermagem até tentaram ajudar, mas não conseguiam decifrar as informações sobre os exames cardíacos a que meu pai havia sido submetido (???)... Ao sair do HBLEM, escuto no rádio do carro que haverá show no Parque de Exposições da cidade. A atração daquela noite seria Marcelo Marrone, um “cantor” que tem como hit a música “Beber, Cair e Levantar”, o novo ideal de imensa parte da juventude dos anos 2000 e até de quem já passou muito dessa faixa etária. Vejo vários bares cheios. Neles ninguém quer saber da prorrogação da CP(provisória?)MF, nem da transformação de hospitais públicos em Vales de Leprosos. O que vale é ouvir, cantar e tornar real o que propõe Marcelo Marrone, “Beber, Cair e Levantar”.

* Prof. Marcos Bispo Santos, Educador Popular do PreAfro – Pré-Universitário para Afrodescendentes, atuando na Área de Literatura Brasileira; diretor do Colégio Estadual da Aldeia Indígena Caramuru Paraguaçu, Pau Brasil – BA. Colaborador da Revista Viração: www.revistaviracao.com.br

5 comentários:

Anônimo disse...

É prof. Marcos Bispo Santos, infelismente este e o Brasil da era pós Lula, educação e saúde, não são prioridades em seu desgoverno, e ele ainda diz que tá fazendo um governo voltado pelo social, dando como engana que te quero, uma tal de bolsa família, que pode chegar aos 90 reais mensal, e o povo continua a morrer de fome e falta de caráter ao receber esta esmola, o povo fica cheio de esperanças que o Brasil tá mesmo progredindo. Tamos andando para trás como caranguejo. No tempo da ditadura militar as coisas funcionavam melhores, pois militar tem disciplina e obrigação a cumprir, seja ela na paz ou na guerra.Más o povo optou pela democrácia a tá ai pagando um alto preço. Na democrácia o governo e voltado para o bem social da elite politizada, o pobre que se dane. Infelismente quem não tiver um plano de saúde tá mesmo condenado a morrer nas longas filas do hospitais do(SUS-to). Lamento muito a situação de seu velho e querido pai. Mas isto acontece porque o povo, e simplesmente o povo e nao reage pela luta(armado do seu titulo de eleitor), para dar um basta nesta canalhice de democracia disfarsada e enganada pelos nossos governantes, transvertidos de santos milagreiros do nordeste. E o social dos excluidos,
Seu Resenha fala pelos excluidos do social, da era da democracia. Quando o povo aprender a votar as coisas melhoram, ate lae rezar para n ficar doente, eter queir pararna fla dos hospitais publicos.

Anônimo disse...

Seo Pimenta, agente só percebe a gravidade dos problemas que perseguem o povo brasileiro (saúde, educação, segurança, transporte, trabalho e renda) é quando somos vítimas do descaso.
É na pele e no sangue que realmente sentimos o quanto o povo carente e dependente dos serviços público sofre.

Anônimo disse...

Se com Lula é assim, imagine antes com os crápulas que hoje o acusam, era tudo uma belezura, eles iam buscar os doentes em casa e levavam no colo até o hospital.
KKKKKKKK
Vai tomar vergonha na cara seu Resenha.

Anônimo disse...

Seu Resenha responde a seu anônimo:
Seu Resenha tá defendo os excluidos pela tal de democrácia, implantada no Brasil. Seu anônimo deve ser uns dos que recebe o tal de bolsa família, más quando seu anônimo precisar de ser atendido em um hospital público vai sentir na pele o que tá sentindo o pai do Prof.Marcos Bispo Santos. A falta de médicos , falta de medicamentos, falta de leitos, falta de vergonha na cara, e vai enfrentar as longas filas de espera para ser atendido nos hospitais convêniados ao Sus-to. Más seu Resenha não deseja isso a seu anônimo não, pois seu Resenha tem coração e sente a dor dos outros, que nescessitam de atendimentos na rede hospitalar do Sus-to. Seu Resenha tem plano de saúde e quando precisa de médico pega um avião a vai direto tratar em São Paulo, ou Salvador. Deixa de ser puxa-saco de um desgoverno sem compromisso, com a saúde, educação, trabalho, e segurança pública, que é dever do estado, pois está escrito na Constituição Federal, art 193,194,195,196 a 200, Educação art 205 a 214. Seu Resenha só fala o que sabe e não discute com gente ignorante como seu anônimo. Seu anônimo precisa ler a Constituição Federal, de 1988, da qual seu Lula ajudou a escrever os artigos e leis, más como ele hoje é Presidente da República talvés ele tenha esquecidos de ler a Constituição, e se leu não pode cumprir , pois não tem tempo para isso , é o caixeiro viajante, intinerane.Seu ignorante quando quiser discutdir com seu Resenha vai se atualizar primeiro.Seu Resenha fica fulo da vida quando encontra algum ignorante pela sua frente, querendo discutir o que não não sabe.

A Porta do Reino disse...

Seu Resenha,creio que o "seu anônimo" deve ser alguém da "cúpula" esquerdista que inferniza nossas vidas. Esse pessoal não sabe o que é atendimento público, só de ouvir dizer e fazer proselitismo. A maioria possui bons planos de saúde e "mama" muito dos impostos que o povão paga. Quanto ao Prof. Marcos, fico solidário com ele, e o convido a ler a VEJA sobre "Che" , para não continuar sendo engodado, pela falsa imagem do assassino cubano/argentino.