Padre Júlio Lancelotti
Daniel Thame
O Ministério Público de São Paulo concluiu, após um inquérito que correu em segredo de Justiça, que o padre Júlio Lancelotti foi vítima de extorsão. O crime, denunciado pelo próprio padre, foi praticado pelo ex-interno da Febem Anderson Batista, a mulher dele Conceição Eletério e dois irmãos, que durante três anos, de
Quando o padre Julio Lancelotti, cansado das ameaças e de dar dinheiro aos bandidos, resolveu vir a público revelar o drama que estava passando, os céus literalmente caíram sobre sua cabeça.
Bastou um marginal com extensa folha corrida dizer que mantinha um relacionamento amoroso com o religioso e que o dinheiro era entregue em troca de favores sexuais, para que parte da mídia farejasse carniça.
Julio Lancelotti, então, passou de vítima a réu.
Teve sua vida exposta, sua reputação arranhada e seu trabalho em favor dos excluídos questionado. Toda uma história marcada pela atuação em defesa das crianças portadoras do vírus HIV e dos moradores de rua, foi deixada de lado, para dar vazão a um escândalo bem ao gosto da imprensa sensacionalista.
A palavra de um bandido teve mais peso do que a de um homem sério e reconhecido internacionalmente.
Resultado: o padre Lancelotti, lançado à inquisição irresponsável, condenado antes mesmo de poder se defender, teve que abandonar o trabalho social e limitar suas atividades religiosas. Tornou-se um recluso.
Primeiro, vítima de uma quadrilha. Depois, vítima de uma imprensa que em nome da liberdade de expressão, acha que é natural acusar antes e apurar depois, quando se dá ao trabalho de fazer isso.
Se é verdade que é melhor uma imprensa livre que cometa seus excessos, do que uma imprensa amordaçada, não é menos verdade que há que impor limites, para evitar o linchamento moral de pessoas que depois se descobre serem inocentes.
Como foi o caso do padre Lancelotti. Como foi o caso (célebre) da Escola de Base.
E como foi o caso, no terreno regional, dos acusados de terrorismo biológico na disseminação da vassoura-de-bruxa no Sul da Bahia.
Guardadas as devidas proporções, todos foram expostos ao escárnio e à execração pública.
Quando revelada a inocência dos acusados, o espaço dado pela imprensa é inversamente proporcional ao destaque negativo dado durante o bombardeio diário.
Mesmo que a vida siga e que alguns consigam dar a volta por cima, os ataques sofridos permanecem como feridas que cicatrizam, mas deixam marcas para sempre.
O caso do padre Júlio, o defensor dos excluídos, vítima de extorsão transformado em devasso sexual, deveria nos levar a uma reflexão sobre esse furor acusatório que coloca num mesmo caldeirão bandidos e mocinhos, anjos e demônios.
Deveria, mas não vai levar a reflexão alguma. Lá como cá, a próxima vítima é apenas uma questão de tempo, oportunidade ou interesse.
Daniel Thame é jornalista
4 comentários:
Caro Daniel, gostaria de ver uma análise imparcial sua sobre a imprensa de nossa região.
um abraço
Gente!
como um padre que eh extorquido em quase 50 mil reais pode ser inocente???
se ele era tão honesto, pq n denunciou o cabra?
como ja diria o ferréz (devidamente contextualizado): "o correria ficou com o carro e o padre ficou com a batina."
justiça poética.
Não há nada de novo na conclusão do Inquérito. Afinal de contas, desde o início o Lancelotti afiramava estar sendo extorquido.
Mas, como disse o anônimo acima: 50 mil? E mais uma Pajero? Que eu saiba a Igreja Católica não paga tão bem. De onde o padre de passeata tirou tanto dinheiro? Por que se submeteu docilmente a uma extorsão tão grande?
Interessante: Lancelotti é o único padre cuja acusação de pedofilia (se bem que marmanjo de 17 anos está longe de ser criança) despertou o "in dubio pro reo" na imprensa progressista. Talvez por que ele seja mais militante que pastor.......
Zelão, pro Sêo Danié:
Oportuno o seu comentário. Aliás, reflete o pensamento do PT e do Presidente Lula, ao se referir a imprensa nacional. A mesma imprensa, que antes do PT subir ao poder, recebia e publicava as denúncias contra os que eles chamavam de "direita facista".
Nada como um dia após o outro, para quem deixa de ser estilingue e passa a ser vidraça.
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