11 outubro 2007

Che

Daniel Thame

Há quarenta anos, num dia 9 de outubro de 1967, Ernesto Guevara Lynch de la Serna era executado na aldeia de La Higuera, nos confins da Bolívia, onde pretendia plantar a semente de uma revolução que se estenderia por todo o continente, à época dominado por ferozes ditaduras militares.

Ao ser fuzilado quando já estava estava irremediavelmente derrotado em seu projeto libertador, versão moderna de Simon Bolivar, Ernesto não necessitava de comparações com ninguém, porque já era ele mesmo: Che Guevara, companheiro de Fidel Castro na antológica revolução cubana, em que um grupo de revolucionários ousou fazer com que uma ilhota do Caribe encarasse a maior potência do planeta, os Estados Unidos, de quem Cuba como era um misto de cassino, bordel e lavanderia do dinheiro da Máfia.

O Che que abdicou das glórias, dos cargos, do poder e do conforto porque era movido a desafios, embrenhou-se na selva africana e quase perdeu a vida nas disputas tribais nas entranhas do Congo.

Incansável na sua fé revolucionária, fincou os pés e os ideais na Bolívia, onde encontrou a “morte heróica” que parece ter buscado tão intensamente como buscava repetir o êxito de Sierra Maestra, que varreu a ditadura de Fulgêncio Batista.

A vida não permitiu a Che Guevara o surgimento de novas “Cubas”.

A morte, entretanto, alçou o guerrelheiro cubano, nascido na Argentina e família classe média, à condição de um dos maiores mitos do mundo contemporâneo.

O guerrilheiro maltrapilho, atacado por crises de asma que o atormentaram desde a infância, menos de um ano depois de sua morte surgia como símbolo dos protestos de jovens em varias partes do planeta.

A imagem do Che de olhar distante e contemplativo, captada quase por acaso pelo fotógrafo Alberto Korda, passou a ilustrar camisetas e bandeiras nos confrontos de jovens franceses, italianos, alemães, norte-americanos, argentinos e brasileiros com a polícia no igualmente mitológico ano de 1968, quando todas as utopias pareciam possíveis.

O “culto ao Che”, nascido como culto à rebeldia e ao inconformismo, superou o próprio contexto histórico em que parecia estar inserido, atravessou décadas, virou o século, conquistou novas gerações.

Che Guevara é mais do que estampas em camisetas, bandeiras e posters, tatuagem em corpos de famosos e anônimos, objeto de consumo (e aqui embute-se uma ironia do sistema capitalista com quem ele travou uma luta de vida e de morte) ilustrado em marcas de grife.

O que se mantém não é o Che obsessivo, irruditível em suas convicções e, quando necessário, implacável com seus inimigos, a ponto de comandar sessões de fuzilamento nos célebres ´paredóns´ logo após a entrada triunfal de Fidel Castro e seus companheiros numa Havana extasiada pela libertação, mas ainda infestada de contra-revolucionários.

Esse Che, humano, demasiadamente humano, para citar Nietzche, perde-se nas fumaças do tempo, reduzido aos compêndios de História.

Resiste, a despeito de todas as tentativas de desqualificar o mito, transformando o guerrilheiro heróico num sanguinário inconsequente, o Che que é acima de tudo o símbolo de uma rebeldia -e também de uma utopia- que estão na essência da alma humana.

Nem a todos é dada a chance ser protagonista de uma revolução, vencer e fracassar, morrer a morte heróica.

Nisso, Ernesto Guevara Lynch de La Serna foi, é e será um personagem único.
Mas, a todos é dada a chance (ou seria o dever?) de lutar por um mundo melhor e menos desigual, um mundo onde não existam poucos com muito e muitos com tão pouco.

Onde nações poderosas se impõem sobre as demais, desfrutando de todas as riquezas e dominando todas as tecnologias, enquanto milhões de miseráveis dos países periféricos não tem acesso nem aos serviços básicos.

O verdadeiro legado de Che Guevara não é espalhar revoluções através de manuais de guerrilha hoje fora de tempo e de sentido.

É manter, num mundo cada vez mais globalizado, competitivo e impessoal, a esperança de que ainda há espaço para o coletivo, a solidariedade e a distribuição justa das riquezas do planeta.

Que há, sim, espaço para as transformações sociais, não mais pela força das armas, mas pela força das idéias e das ações.

O Che imortal é o Che que temos vivo dentro de cada um de nós!

4 comentários:

A Porta do Reino disse...

Interessante...Fiz um comentário a respeito dessa opinião,seguindo as diretrizesde ofender,etc,e não foi publicado. Não se pode divergir de Daniel?
Gonzalez Pereira

Ricardo Ribeiro disse...

Amigo Gonzalez, esteja certo de que não houve censura ao seu comentário. Tenha a bondade de reenviá-lo, pois deve ter ocorrido algum problema no encaminhamento da mensagem.
Obrigado pela leitura!

A Porta do Reino disse...

Cansei...

Anônimo disse...

Muito interessante esse artigo do apaixonado Divaldo... Romantico demais quando ele diz que o maravilhoso, bem dotado Chê comandou heróicas sessões de fuzilamentos além da entrada triunfal de Fidel na Ilha... Fiquei emocionado, ao mesmo tempo com pena do pobre Divaldo que sonha em mais uma passagem com estadia em Cuba, para ver o que há de melhor da Ilha, um verdadeiro estímulo ao vício de charuto iniciado na última viagem (dígratis), mas na falta de grana para original, o genérico paraguaio foi uma mão na roda... há, ele também usou uma boinazinha ridícula... hehehehehehehehe