Monga e Eu
Quem nunca foi a um Parque de Diversões e deparou com aquele trailer horripilante da incrível mulher que se transformava em gorila? Ou se nunca viu a atração, já deve ter ouvido falar. Há ainda aqueles que já viram de longe, mas nunca entraram. Eu me pelava de medo da Monga, mas consegui superar.
A minha primeira lembrança é de quando tinha uns cinco anos e dei chilique para ir embora ao ouvir a locução nefasta: “Mongaaa, a mulher-gorila”. Os desenhos do reboque da atração representavam uma mulher de seios fartos, com um biquíni mínimo, de estampa africana. Depois, tinha essa mesma dona sendo mordida pelo Drácula (Nunca entendi isto. Acho que ele cansou da Transilvânia e foi passar umas férias na África) e, em seguida, a criatura meio mulher, meio símio, concluindo com um macacão sanguinário.
Para uma criança pequena, aquilo era a representação do inferno. Quando colocavam a propaganda da Monga nas caixas de som, eu ia embora mais cedo. Meus pais adoravam, pois ajudava a conter minha sede de brinquedos. Porém a monstrenga povoou muitos dos meus pesadelos.
Com o passar dos anos, o meu medo de Monga foi sendo substituído por uma curiosidade tão grande quanto. Quando tinha 14 anos, um namoradinho me levou ao parque que tinha a mulher-gorila. Eu senti um repente de coragem e convidei: “Vamos?” O meu então namorado disse que era besteira (devia estar se borrando de medo), mas cedeu à minha insistência.
Minhas mãos suavam já na fila. Quando entrei no reboque apertado e malcheiroso, vi que não tinha escapatória. O show começou com uma mulher com os peitos de fora (não tão gostosona quanto à do desenho do trailer), que dançou ao som de um axé, entrou em transe e começou a se transfigurar. A narração fazia meu coração sacolejar. Os olhos da moça ficaram brancos, pêlos foram se espalhando pelo corpo. Ela começou a se debater e a locução pedindo calma. Quando abriu a jaula, eu já estava longe. Eu e meu namoradinho “corajoso”.
Assistir a uma apresentação de Monga virou questão de honra. Cresci, aprendi que aquilo era uma ilusão de ótica (assista a “Lisbela e o Prisioneiro”), mas precisava superar o trauma. Meu marido foi quem me apoiou e acompanhou na atração. Tinha que vencer a mulher-gorila, pois ela era o meu fantasma da infância.
Ao adentrar no trailer, revivi o desespero da primeira experiência. Então, o show começou. A Monga desta vez estava mais composta e dançava ao som de Ivete Sangalo. Ela foi induzida ao transe e começou a transfiguração. Mantive os olhos bem abertos, apesar do escuro e da luz estroboscópica. Quando a jaula se abriu, vi uma figura saindo do lado, espalhafatosamente, batendo nas chapas de ferro da parede. O povo gritava e eu comecei a rir. Tentei agarrá-la, porém a criatura se esquivou e voltou para onde saiu. Contida a fera, as luzes de acenderam, ela se “destransformou” e o show terminou.
Eu me senti uma heroína. A Karol, de cinco anos ficaria orgulhosa da minha bravura. Acho que temia mais a locução tenebrosa, estilo anos 70, tendo com música de fundo o tema de Guerra nas Estrelas. O segredo da minha superação foi resistir ao desconhecido.
A minha primeira lembrança é de quando tinha uns cinco anos e dei chilique para ir embora ao ouvir a locução nefasta: “Mongaaa, a mulher-gorila”. Os desenhos do reboque da atração representavam uma mulher de seios fartos, com um biquíni mínimo, de estampa africana. Depois, tinha essa mesma dona sendo mordida pelo Drácula (Nunca entendi isto. Acho que ele cansou da Transilvânia e foi passar umas férias na África) e, em seguida, a criatura meio mulher, meio símio, concluindo com um macacão sanguinário.
Para uma criança pequena, aquilo era a representação do inferno. Quando colocavam a propaganda da Monga nas caixas de som, eu ia embora mais cedo. Meus pais adoravam, pois ajudava a conter minha sede de brinquedos. Porém a monstrenga povoou muitos dos meus pesadelos.
Com o passar dos anos, o meu medo de Monga foi sendo substituído por uma curiosidade tão grande quanto. Quando tinha 14 anos, um namoradinho me levou ao parque que tinha a mulher-gorila. Eu senti um repente de coragem e convidei: “Vamos?” O meu então namorado disse que era besteira (devia estar se borrando de medo), mas cedeu à minha insistência.
Minhas mãos suavam já na fila. Quando entrei no reboque apertado e malcheiroso, vi que não tinha escapatória. O show começou com uma mulher com os peitos de fora (não tão gostosona quanto à do desenho do trailer), que dançou ao som de um axé, entrou em transe e começou a se transfigurar. A narração fazia meu coração sacolejar. Os olhos da moça ficaram brancos, pêlos foram se espalhando pelo corpo. Ela começou a se debater e a locução pedindo calma. Quando abriu a jaula, eu já estava longe. Eu e meu namoradinho “corajoso”.
Assistir a uma apresentação de Monga virou questão de honra. Cresci, aprendi que aquilo era uma ilusão de ótica (assista a “Lisbela e o Prisioneiro”), mas precisava superar o trauma. Meu marido foi quem me apoiou e acompanhou na atração. Tinha que vencer a mulher-gorila, pois ela era o meu fantasma da infância.
Ao adentrar no trailer, revivi o desespero da primeira experiência. Então, o show começou. A Monga desta vez estava mais composta e dançava ao som de Ivete Sangalo. Ela foi induzida ao transe e começou a transfiguração. Mantive os olhos bem abertos, apesar do escuro e da luz estroboscópica. Quando a jaula se abriu, vi uma figura saindo do lado, espalhafatosamente, batendo nas chapas de ferro da parede. O povo gritava e eu comecei a rir. Tentei agarrá-la, porém a criatura se esquivou e voltou para onde saiu. Contida a fera, as luzes de acenderam, ela se “destransformou” e o show terminou.
Eu me senti uma heroína. A Karol, de cinco anos ficaria orgulhosa da minha bravura. Acho que temia mais a locução tenebrosa, estilo anos 70, tendo com música de fundo o tema de Guerra nas Estrelas. O segredo da minha superação foi resistir ao desconhecido.
Monga perdeu seu encanto.
Agora, quando a mulher-gorila vem à cidade, prefiro ficar de fora, dando muita risada da cara dos fugitivos. Vendo o ciclo se repetir.
Agora, quando a mulher-gorila vem à cidade, prefiro ficar de fora, dando muita risada da cara dos fugitivos. Vendo o ciclo se repetir.
* Comunicóloga
2 comentários:
Zelão Pra Menina Karol:
Me delicio com os seus artigos. Neles, vejo um pouco da criança que existe em você. Vejo ternura, mesmo quando existe a crítica.
Uma pena, é que a "Monga", não povoe mais o imaginário do medo das crianças de hoje, acostumadas a se divertirem com figuras mais horrendas dos jogos eletrônicos e dos filmes na televisão.
Continue nos brindando com os seus artigos, que se destacam entre os crimes políticos ou não, que atormetam não o imaginário. Mas a dura realidade de nós adultos do hoje.
Um abraço do Zelão!
Zelão Pra Menina Karol:
Dá prazer ler os seus artigos. Neles, vê-se que ainda existe uma criança em você, que deve ser preservada.
Lamento, que nos dias atuais, a figura da "Monga", já não povoe o imaginário do medo nas crianças, acostumadas com figuras mais horrendas dos jogos eletrônicos e dos filmes na televisão.
Hoje, não mais a "Monga" nos assusta - nós adultos - as figuras horrendas dos crimes, políticos ou comuns, que desfilam nos noticiários.
Mantenha-se criança.
Um abraço do seu admirador,
Zelão
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