10 outubro 2007

Nem toda nudez será castigada

Daniel Thame

O presidente do Senado, Renan Calheiros, se safou da cassação, mas não encerrou seu inferno astral e continua com a cabeça a prêmio.

Tornou-se uma espécie de morto vivo, um cadáver insepulto, a desfilar sua inacreditável vontade de se manter num cargo do qual, no mínimo, deveria se afastar enquanto prosseguem as apurações de inúmeras denúncias, que vão de tráfico de influência a recebimento de propina.

Renan Calheiros tornou-se um incômodo até para o Governo Federal, que manobrou abertamente para salvar-lhe e pele na votação em que foi acusado de usar recursos recebidos de uma empreiteira para pagar as despesas com uma amante que lhe deu um filho, a jornalista Mônica Veloso.

Ao enfrentar o desgaste de poupar Renan, em nome de uma aliança estratégica e indispensável com o PMDB, o Governo Federal (e o PT por extensão) imaginaram que o senador pediria licença do cargo, sairia do foco da mídia e as denuncias perderiam força, esvaziando um escândalo que se arrasta por cerca de cinco meses.

Mas Renan Calheiros não saiu, não sai e deixa claro que não vai sair. Mesmo que, por conta dessa insistência, o PMDB ver por outra se veja na obrigação de “mandar alguns recados” para Lula e que o próprio senador alagoano tenha que apelar para o jogo baixo das ameaças veladas aos colegas, ameaçando tornar públicos alguns deslizes deles. No jargão popular, o nome disso é chantagem. Até agora tem funcionado.

Enquanto Renan queima em público e o Senado se perde na fumaça do descrédito, o que faz a pivô do escândalo?

Tira a roupa e fatura uma bela grana, exibindo ao país os dotes que enlouqueceram Renan Calheiros. Em todos os sentidos.

Mônica Veloso aproveitou a fama momentânea (sua carreira televisiva estava no ocaso após uma passagem pela tela da Globo) e fechou logo um contrato para posar nua na revista Playboy, com direito a cachê polpudo e participação na venda dos exemplares.

É capa da edição da revista deste mês, que está vendendo mais do que os bois supervalorizados de Renan. Como desgraça pouca é bobagem, painéis com fotos de Mônica Veloso peladona acabaram estampados até nos corredores do Senado, onde em menos duas horas, foram vendidos cerca de 150 exemplares da publicação, que pertence à Editora Abril, que também edita a revista Veja, que não passa uma semana sem exibir uma nova denuncia ou requentar velhas denuncias contra o presidente do Senado.

Uma coisa puxa outra e outra coisa puxa uma, como se vê.

Nessa lógica, quanto mais Renan continuar exposto, mas a Playboy com Mônica Veloso vai vender.

Renan Calheiros, óbvio, não é vítima.

Como Mônica Veloso também não é vítima.

Vítima é o cidadão comum, obrigado a conviver com um sistema político onde impera a impunidade, a esperteza, o toma-lá-dá-cá. Onde nem toda corrupção será castigada e toda nudez será premiada.

E também onde nem tudo acaba em pizza, é bem verdade.

Algumas coisas acabam em putaria mesmo!

Um comentário:

Anônimo disse...

Zelão Pro Sêo Daniel:


Aplique-se dois pesos e dua medidas no julgamento do mesmo crime: - No caso da "impoluta nudez" de Mônica Veloso, deve ser aplicada a salvaguarda do "Nú Artístico".
No caso do Senador Renan Calheiros, que seja aplicada com rigor as duras penas imputadas ao crime de "lesão corporal gravíssima por atentado ao pudor congressual".
Diante de tal julgamento, se pode entender porque: - Nem toda nudez merece ser castigada!

KKKKKKKKKKKK