Se gritar 'pega ladrão'...
Gustavo Atallah Haun
Uma das poucas coisas boas que os portugueses cristãos fizeram nestas terras foi a criação da Santa Casa de Misericórdia. Obra hospitalar filantrópica, secular, que ajudou e ajuda muita gente no Brasil. Hoje, certas Santas Casas caminham para se tornar hospitais particulares unicamente, pois se encontram em estado de calamidade devido aos tantos desmandos que já sofreram.
Deve ter sido por essa situação que algumas estão bastante empenhadas em lançar seguidamente campanhas para a sua dita “revitalização” ou “saneamento das dívidas”, como pretendem informar. São shows, ligações telefônicas para doar quantias específicas, campanhas beneficentes, etc., tudo na tentativa de cobrir os débitos, sanar os custos, melhorar o atendimento...
Na verdade, o que as Santas Casas precisam são de bons administradores, menos máfias, acabar os roubos e os salários astronômicos. A mudança, se vier, tem que ser de cima para baixo, para se dar o exemplo de seriedade e de competência devidos. A população não é ignara e conhece as tramóias que já viraram folclore envolvendo essa obra filantrópica de maior importância para todos.
Já ouvi de ex-tesoureiro que existem pessoas dentro dessas Instituições ganhando 17 mil reais, isso para não citar as esposas desses rapinadores que fazem parte do quadro de funcionários idem. Por que não abrem mão dos seus polpudos salários para ajudar na boa causa?
Outra coisa interessante é que todos os serviços dos Hospitais praticamente foram terceirizados, tudo para beneficiar a própria cúpula que vira e mexe está sempre no poder. Ficou famosa, por exemplo, uma cena de uma Santa Casa em que bolsas de sangue foram rasgadas e jogadas fora porque o médico só as aceitava se fosse o sangue colhido no seu próprio laboratório.
Viraram lendas as estórias das duplicatas pagas três, quatro vezes! Sem falar na falcatrua dos medicamentos que são comprados a maioria em câmbio negro, sendo que os funcionários e os médicos metem a mão a qualquer hora do dia e da noite, chegando ao absurdo de ter gente dentro desses estabelecimentos que vendia “kits” de enfermagem com material hospitalar.
Certa vez, soube que numa festa na doce morada de uma enfermeira-chefe dessas santíssimas “Casas de Saúde” todas as toalhas eram bordadas com a logomarca da mesma e que isso era uma prática comum na Instituição: levavam para os seus lares conjuntos de cama, mesa e banho e que a bendita Santa Casa gastava todo semestre 60 mil reais só para repor o estoque desses materiais. Enquanto isso, nos leitos dos doentes...
Tampouco são desconhecidos os sumiços de máquinas, material hospitalar, roupas cirúrgicas, entre outros. Se fossem fazer uma auditoria nas clínicas e consultórios particulares da região talvez encontrassem muitas coisas compradas pelas Casas de Misericórdia e que estavam todas dadas como perdidas ou roubadas. Dizem até que alguns aparelhos médicos caríssimos aparecem depois de anos de uso, como se nada tivesse acontecido!
As Santas Casas sobrevivem com recursos públicos, planos de saúde, além das internações particulares. Fica a pergunta: será que com tudo isso não consegue fechar as suas contas? Para exemplificar, os Hospitais de Base só recebem recursos públicos, qual deles deveria estar em melhores condições de uso?
Por que somente algumas Santas Casas usam da transparência administrativa e publicam na mídia as planilhas com todas as despesas e toda a arrecadação feita? Já que se trata de obra filantrópica, benemerente, todas deveriam fazer isso.
Quem não conhece a sujeira e os meandros políticos que estão por trás de todas essas mixórdias pensa que é somente falta de capital o problema, irá pegar o telefone e, inocentemente, doará seu suado dinheirinho a essa malta que sabe do Pai Nosso apenas o verso: “Venha a nós o Teu Reino!”. É o que sempre digo nas horas próprias e impróprias: “não fica um, meu irmão”!
Gustavo Atallah Haun é professor
3 comentários:
Parabéns, Gustavo! É preciso tocar nessas feridas que alguns preferem manter longe das nossas vistas.
Zelão pro Professor Gustavo:
Mesmo reconhecendo o papel benemérito das Santas Casas de Misericórdias, na saúde brasileira, isto não as insentam de prestarem contas a sociedade, que afinal de contas as mantém. Apesar de generalizar as acusações sem citar nominalmente esta ou aquela instituição, a Santa Casa de Itabuna não escapa. Fica portanto com ela a obrigação das explicações devidas. Caso contrário, a carapuça recairá sobre a cabeça dos seus diretores.
Ademais, está de parabéns o professor Gustavo pelas denúncias, que se não forem "levianas e infundadas" merecem os aplausos de todos.
realmente, como afirmei no texto, o que relatei foram coisas ditas por funcionários e ex-funcionários da casa... se minhas fontes estiverem mentindo, aí cabem a elas o ônus da leviandade! eu acreditei e me revoltei, tanto que escrevi, mesmo recebendo um gelo do Diário do Sul, que não publica mais meus textos! o que eu gostaria de falar era um pouco disso que ninguém fala, ou pelo menos levantar uma discussão...
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