Hasta la vista, Fidel!
Edgard Freitas
Já não era sem tempo. Depois de 49 anos aferrado ao cargo, eis que Fidel Castro Ruz, caudilho inconteste de Cuba, renuncia em favor de seu irmão, provando, aos 81 anos, o seu “desapego” ao poder. Historicamente este evento é menos importante que o seu afastamento provisório, dois anos atrás, por conta da doença que lhe afligiu.
Para os cubanos, pouca coisa mudou: O Partido Comunista permanece único, as eleições continuam um simulacro, o racionamento permanece, inexiste liberdade de opinião e de associação, os presos políticos permanecem onde estão e o controle do Estado sobre a vida dos cidadãos permanece absoluto.
O tratamento da mídia brasileira ao fato é como eu esperava: respeitoso para o velho comandante, chamado-o mais vezes de “líder”, “presidente” e “revolucionário” que de “ditador”. Quase que invariavelmente as críticas ao regime comunista são seguidas de elogios à parte social.
Eu desconfio muito dos dados sociais de Cuba. Não que eu duvide que 100% das crianças cubanas estejam nas escolas, ou que haja mais médicos per capita em Cuba que na Dinamarca. Minha desconfiança é fruto de alguns dados.
O primeiro é o da transparência. Os dados do IDH da ONU são fornecidos pelos próprios governos. Se algum governo brasileiro maquiasse dados para aumentar nosso IDH, imediatamente ONGs, partidos de oposição ou mesmo cidadãos individualmente demonstrariam a farsa, pois os dados são públicos.
Mas em Cuba esse tipo de controle não existe: Não existem partidos de oposição, ONGs desautorizadas pelo governo, e o cidadão como indivíduo não existe. Ou seja, quando se arrota com orgulho os números cubanos se passam dados fornecidos unicamente pela ditadura, sem qualquer controle externo. Acredita, pois, quem quiser.
Ainda que os números sejam exatos, que se pode esperar de uma educação sectária, que rejeita o pluralismo de idéias? Fica a grande pergunta: de que adianta, pois, 100% de crianças na escola se elas não podem ler o que quiserem, escrever o que quiserem, falar o que quiserem e ouvirem outras versões que não as oficiais? E mais: Qual a população universitária cubana? Alta, segundo os dados. Com um capital humano desses, como é que a ilha vive a pindaíba que vive hoje?
Ah, já sei. Vão falar do “Bloqueio” americano, o bode expiatório preferido dos Cubanófilos. Pois bem. Não existe “bloqueio”. Existe “embargo”. Qual a diferença? O bloqueio é um cerco completo. O embargo é uma restrição de comércio. A rigor, o embargo só afeta, de fato, empresas americanas. O resto do mundo é livre, na prática, para negociar com Cuba. Não é a toa que a maior parceira comercial de Cuba, hoje, é a Espanha, aliada dos EUA na OTAN.
O interessante é que os acólitos de Fidel na América Latina vivem culpando o comércio com os EUA pelos males da América Latina. Querem o capeta mas não querem a ALCA.. Mas quando se trata de Cuba, a reclamação muda 180º: a culpa dos males cubanos passa a ser a falta de livre comércio com os EUA. É o estado-de-arte do duplipensar.
Fidel é um cadáver adiado que procria. E como procria! Financiou e armou guerras civis na África e na América Latina. Soldados cubanos combateram ao lado da liga árabe pela aniquilação de Israel em 73, e ajudaram a torturar prisioneiros de guerra americanos no Vietnam. Suas guerrilhas deixaram El Salvador e a Nicarágua em ruínas, e Angola repleta de minas terrestres.
As FARC ainda deixam um rastro de destruição na Colômbia. Evo Morales e Hugo Chávez mantém o plano de uma América Latina socialista forjado continuamente em todos os encontros do Foro de São Paulo, fundado por Fidel e Lula em 1990. Lula, aliás, permaneceu presidente do Foro, que congrega partidos políticos legais, narco-guerrilheiros e terroristas até 2002.
Não respeito nem Fidel nem o seu legado. Não acho o “socialismo moreno” uma experiência válida, como, aliás, nenhuma forma de socialismo. Não julgo as idéias – e isso inclui o marxismo – pelas suas intenções, mas pelas suas conseqüências. E o legado de Fidel é uma ditadura longeva, uma ilha empobrecida, torturas físicas e psicológicas, e milhares de cadáveres sem nome dos paredões ou afogados no estreito da Flórida. Esse é o seu legado. E ideologia nenhuma muda esse fato.
Fidel Castro já foi tarde. Rezo ao bom Deus que logo a opressão sobre o povo cubano se levante, e que eles possam cantar – suprema ironia – a música que o fã do comandante, Chico Buarque, fez para Médici: “quando chegar o momento / esse meu sofrimento / vou cobrar com juros, juro”.
Edgard Freitas é Bacharel em Direito pela UESC e blogueiro nas horas vagas
http://www.caxassafilosofal.blogspot.com
7 comentários:
Mais respeito ao grande comandante!
Aí Edgard, cuidado que os cumpanheiros viu...eles vivem elogiando o Regime de Fidel mais nunca foram a Cuba. Pergunte a eles se querem uma passagem de ida para Cuba (sem volta)? Certamente a resposta será não. Pra essa gente é fácil defender o "regime" no deleite de suas casas confortáveis e posando de batalhadores de causas humanistas e socialistas.
Meus parabéns pelo texto.
Muito bom Edgard, faltou aquele paralelo, que você comentou, com a gestão Quincotesca da UESC que é gerida a mão de Ferro por Tonho Bastos.
"Infelizmente o embargo não se resume a isso, ele vai muito além.
Embarcações que tenham aportado em Cuba são proibidas de ancorar em qualquer porto dos EUA durante 6 meses. ( Dispensável explicitar os transtornos de tal medida. Basta dizer que os Eua são rota natural para qualquer navio mercante que passe pelo Caribe.)
Qualquer companhia que comercialize com Cuba PODE ser penalizada com o fim das relações com os EUA.**
(Poder de dissuasão só comparável ao das Bombas de Hidrogênio)
** O pior de tudo, isso está legislado, é lei. A empresa não pode nem dizer que não sabia."
A decisão de Fidel Castro – “o único mito vivo da humanidade”, segundo a singela definição do presidente Lula – de deixar suas funções na presidência do Conselho de Estado de Cuba excitou os gusanos (vermes) do mundo todo. A mídia hegemônica tem dado amplo espaço para divulgar o seu “obituário precoce”, como se o líder revolucionário tivesse morrido. Num ritual macabro, a máfia de Miami, o presidente-terrorista George Bush e a direita hidrófoba festejam o retorno do “livre mercado” e da democracia dos ricos à ilha. Precipitados, esquecem que este heróico povo resiste há 47 anos do criminoso bloqueio dos EUA e que sobreviveu à débâcle do bloco soviético.
Na sua comovente mensagem ao povo cubano, publicada no jornal Granma, Fidel Castro explica os motivos da sua decisão. “Seria uma traição à minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total, caso eu não esteja em condições físicas para exercê-la. E eu o digo sem qualquer intuito dramático. Felizmente, nosso processo conta ainda com quadros da velha guarda, bem como outros que eram muito jovens quando se iniciou a primeira etapa da revolução. Alguns se incorporaram quase meninos aos nossos combates nas montanhas e, mais tarde, com seu heroísmo e suas missões internacionais, conquistaram glória imensa para o país. Eles contam com autoridade e experiência para garantir uma boa substituição”.
“O caminho será sempre difícil e exigirá o esforço inteligente de todos. Desconfio dos caminhos aparentemente fáceis, da apologia aberta ou da sua antítese, a autoflagelação. É preciso estarmos preparados para a pior hipótese. E manter a prudência no sucesso e a firmeza na adversidade é um princípio do qual não nos devemos esquecer. O adversário a derrotar é muito forte, mas nos mantivemos em campo durante meio século. Não me despeço de vocês. Desejo combater apenas como soldado das idéias. Continuarei escrevendo sob o título ‘Reflexões do companheiro Fidel’. Será uma arma a mais com que poderemos contar em nosso arsenal. Talvez minha voz seja escutada. Serei cuidadoso”.
O asqueroso Reinaldo Azevedo
Diante da integridade, dignidade e altivez de Fidel Castro, causa indignação a postura rancorosa de alguns mentores da direita nativa, que gozam de fartos espaços na mídia e ainda enganam os inocentes inúteis. O asqueroso Reinaldo Azevedo, tucano de carteirinha e cãozinho sarnento da famíglia Civita, da revista Veja, foi um dos primeiros a soltar rojões com a notícia e a criticar as declarações respeitosas do presidente Lula. “A reação de Lula ao comentar a renúncia do coma andante me enjoou de fato... Terei de lembrar que o Partido Comunista de Cuba é o outro grande fundador do Foro de São Paulo, ao lado do PT. O Foro é aquela entidade que reúne entidades de esquerda da América Latina, incluindo os terroristas das Farc”. Haja reacionarismo e ignorância!
Aliado carnal do torturador George Bush, a quem expressou apoio ao genocídio dos iraquianos, o colunista predileto da direita burra defende o desumano bloqueio dos EUA a Cuba – responsável por mais de US$ 136 bilhões de prejuízos, segundo estimativas mais modestas – e desdenha das conquistas sociais da revolução cubana – reconhecidas até pela ONU. Marionete da mídia venal nativa, uma das poucas no mundo que só trata o líder cubano como ditador, o rancoroso inimigo dos movimentos sociais e das forças de esquerda ainda critica a falta da democracia em Cuba. É doentio! Para este fascistinha, “os nossos ditadores não passam de soldadinhos de chumbo perto da máquina de matar de Fidel Castro” e “o porco fedorento Che Guevara era um assassino”.
O repugnante Diogo Mainardi
Outro pitbul da direita, o filhinho de papai Diogo Mainardi, também expressou no seu podcast da Veja sua alegria precoce. “Em sua carta de renúncia, Fidel Castro citou Oscar Niemeyer: ‘Deve-se ser conseqüente até o final’. Ninguém pode negar que Fidel tenha sido conseqüente até o final. Ele nunca parou de prender e fuzilar dissidentes políticos. Assim como Niemeyer nunca parou de faturar concorrências públicas”, escreveu esta figurinha repugnante. Para ele, a “renúncia” foi insuficiente. “A cadeia teria sido melhor. Ou o túmulo!”. Ele ainda criticou Barack Obama, que prometeu rever o embargo a Cuba caso vença as eleições nos EUA. “Primeiro, Cuba tem de se render. Só depois, com muito boa vontade, os EUA podem cogitar a hipótese de salvar o país”.
Numa de suas obras mais famosas, “A história me absolverá”, Fidel Castro apresenta sua heróica defesa diante do tribunal do ex-ditador Fulgencio Batista. Com sua decisão madura e responsável de deixar a presidência do Conselho de Estado, ele confirma sua posição de “único mito vivo da humanidade”. Já os seus detratores da mídia burguesa, asquerosos e repugnantes, confirmam seu destino no lixo da história. Se é que merecem os gastos públicos com uma lata de lixo!
Zelão - Social Buenas Vista Club:
Buenas Hermano Edgar!
Lúcido, corajoso e oportuno o seu texto. Infelismente, os "companheiros" frustados com a falência do comunismo no mundo, cultuam desde muito, a memória póstuma do "socialismo moreno", na figura moribunda de Fidel Castro.
Faltou dizer, que na sua "falta de modéstia", o presidente Lula, quiz diz verdadeiramente dizer que; Fidel, é o último mito vivo... Depois dele próprio e do louco do Hugo Chávez.
Parabéns hermano!
na saida do aeroporto de havana, um outdoor diz:
"hoje milhoes de crianças de todo mundo dormirão nas ruas, nenhuma em Cuba". viva o grande comandante, nao importa se com mao de ferro ou nao... importa sim as conquistas que o povo cubano conquistou.
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