02 fevereiro 2008

Que gosto tem o carnaval?

Karol Vital

Sempre fui meio do contra: nunca gostei de carnaval. Enquanto minhas colegas contavam histórias de porres homéricos com direito a hospital ou do cara esfaqueado que passou segurando as tripas, eu falava da praia que tinha curtido ou dos lugares que visitei. Não condeno quem gosta da festa, mas sou bicho diurno, não tenho resistência para virar a noite, tomando empurrão e pisão no pé.

Já cheguei a me considerar meio anormal por não gostar de carnaval. Quando tinha entre 14 e 16 anos, cheguei a sair em bloco. Antes de chegar ao final do circuito já estava pedindo para ir pra casa. Forcei minha natureza e constatei que a muvuca acompanhada de som alto e regada à cerveja não era a minha.

Mas tem gente que espera o ano todo, torcendo para fevereiro chegar e se soltar durante o carnaval. Desligam-se das responsabilidades impostas pelo cotidiano e seguem o contrário do significado da palavra que dá nome à festa. Ao invés de dar adeus à carne, caem nela com gosto! Há ainda aqueles que não se contentam em curtir a folia só uma vez por ano e saem peregrinando, de cidade em cidade, em busca de micaretas.

Durante o carnaval, o povo se esbalda no sexo, drogas e qualquer ritmo que esteja tocando. Às vezes acabam nem aproveitando tanto a festa, de tão esbagaçados que ficam. Aí meu pai fala:

- Carnaval bom era o de antigamente! – suspira saudoso, lembrando de sua época no Cada Ano Sai Pior, de Salvador.

Mas nos tempos dele, já existia bebida e drogas. Os lança-perfumes não eram usados apenas para deixar os foliões mais cheirosos. O povo fazia o mesmo uso que hoje:

- É pra ficar doidão, vendo fogos de artifício e a cabeça zunir – descreveu um colega meu, usuário freqüente do produto.

Porém, teve um amante do lança-perfume que não se deu tão bem. Meu tio conta que, num dos carnavais que pulou, seu tênis arrebentou. Ele jogou o calçado fora e ficou segurando a meia suja. Um garoto, meio zonzo, viu o pano embolado na mão dele e perguntou:

- Ô, véi! É lança? Deixa eu ver um pouquinho!

Perverso que só ele, meu tio respondeu que era lança e deu a meia para o rapaz, que ainda agradeceu, fazendo um sinal de positivo com a mão. O resto já dá para imaginar o que aconteceu. Acho que o carnaval daquele amante de lança-perfumes não ficou com um gosto muito bom.

Karol Vital é comunicóloga

4 comentários:

Bel disse...

Hahahahahaha
Adorei a história da meia!!! Merecidooooooooo!!!

(Eu assinaria embaixo de suas opiniões neste texto, amiga!)

Beijoooo

Anônimo disse...

Muito delicioso o seu texto.

Parabéns...

Só não queria ser esse amante da mardita....

Anônimo disse...

Seu Resenha comenta: Está Karol tem cada história para contar,qualquer dias nós senta na praia e quero ouvir suas histórias, seus causos, e vamos trocar figurinhas.Sou seu fã de carteirinha e tudo!
bjos,
Resenha

Unknown disse...

Karol, cada vez mais me surpreendo com a leveza dos seus textos.

Todo castigo pra folião é pouco! rsrsrsrsrsrss

Parabéns