Cacau, cobras e vaga-lumes
“Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um vagalume. Ele fugia rápido com medo da feroz predadora.
O vaga-lume fugiu um dia, mas a cobra não desistia. Dois dias e nada...
No terceiro dia, já sem forças, o vaga-lume parou e disse à cobra:
- Antes de me devorar, posso fazer três perguntas?
- Bom, não costumo abrir precedentes para ninguém, mas já que vou te comer mesmo, pode perguntar...
- Primeira: pertenço a sua cadeia alimentar?
- Não.
- Segunda: te fiz alguma coisa?
- Não.
- Então, por que você quer me devorar?
- Porque não suporto ver você brilhar!”
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Historietas como a relatada acima, cairiam melhor nesses manuais de auto-ajuda tão em voga ultimamente. Mas, ela é atualíssima numa região como a nossa, que enfrenta uma crise que já dura duas décadas e nem assim consegue se unir para atuar em torno de um projeto comum de desenvolvimento.
Não aprendemos, apesar de todas as lições (e todas as decepções), que o individualismo é uma praga infinitamente mais danosa do que a vassoura-de-bruxa.
Continuamos, em todas as esferas, colocando o interesse individual acima do interesse coletivo. Confundindo política, que é uma prática saudável e indispensável à democracia, com politicagem, onde o que vale é o golpe baixo e a total falta de compromisso com a verdade.
Vibramos mais com o fracasso alheio do que com os nossos próprios êxitos.
Trata-se de uma cultura que parece entranhada da região, fazendo com que iniciativas bem intencionadas e propostas sérias para a retomada do desenvolvimento regional sejam detonadas antes mesmo de colocadas em prática.
Exemplo claro disso é o PAC do Cacau, um projeto que prevê a injeção de R$ 2 bilhões no Sul da Bahia, com a liberação de recursos para melhorar a produtividade do cacau, incentivar novas práticas agropecuárias, recuperar a
infra-estrutura e equacionar as dívidas dos produtores rurais. Óbvio que um projeto dessa magnitude não pode ser lançado a toque de caixa, de afogadilho, apenas para garantir dividendos políticos e logo depois ser deixado de lado. Esse é um filme que já vimos várias vezes e cujo final é por demais conhecido..
Ainda assim, o PAC do Cacau vem sendo alvo de ataques, ironias, como se fosse uma bobajota inconseqüente, mera jogada de marketing.
Não é de todo improvável, que ao ser lançado oficialmente e demonstrada toda a sua consistência e seriedade, o plano seja alvo de boicotes, dentro da velha mania de se apostar no insucesso, no fracasso.
Um conhecido empresário itabunense, que já viveu o céu e o inferno da gangorra prosperidade/crise e que conseguiu se recuperar ao trabalhar duro e apostar na diversificação, costuma dizer que “no Sul da Bahia, o sujeito gasta dois reais para que o outro não ganhe um real”.
A conta parece absurda, mas é o que acontece com freqüência nessas plagas grapiúnas.
* Jornalista
5 comentários:
Muito feliz o comentário de Daniel Thame. Com maestria no texto que descreve consegue bem exemplificar e mostrar o espirito de nossa região. Infelizmente para todos nós!
Zelão Pro Sêo Danié:
Como sempre lúcido e no caso presente também "lúdico" o seu comentário.
Ao se traçar um paralelo entre a metáfora e a realidade, fica a dúvida: - Quem é a serpente e que é o vagalume?
Cansado, o "homem da nossa região" nem mais voz têm, para questionar a serpente, quanto aos seus verdadeiros motivos.
Já a insidiosa víbora, tendo sofrido mutação genética (política) se apresenta com várias cabeças, não se sabendo ao certo qual delas fala a verdade.
Cabe aqui a aceitação ou colocação de outra metafora, a da "Raposa e as Uvas" que conta: - Uma raposa posta-se diante de um cacho de uvas tentando devorá-lo; dá vários saltos na tentativa de acança-lo. Sem conseguir, desiste, sob a alegação de que as uvas estão verdes.
Zelão - O Contador de Estórias
Parabens Zelão!
Vou mais adiante sem comparações.
A região foi atacada mortalmente pela disseminação da praga.
Depois foi caçoada, iludida e levada a miseria por Planos eleitoreiros.
Depois de total abandono, descaso e humilhações surgem os "NOVOS" salvadores da Patria com promessas Mirabolantes, utopicas que Sacanamente chamam de PAC do Cacau.
Saia, vá até as fazendas e tente "sentir" um pouco da dor daqueles que não estão "MAMANDO" nas tetas do PODER
Esta cronica parece que foi escrita no Calçadão da Paranaguá.Ótima.
Qualquer tentativa de resgate do que ""foi" a região cacaueira doí e muito em pessoas como Zelão e adjacentes. Pessoas assim pensam o mundo(região cacaueira), precisamos parar de pensar, devemos transforma-lo. No passado não precisamos de mais nada além de homens, os politicos viviam as nossas custas, ainda não precisamos deles! Excelente escrita Daniel, parabens!
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